lomadee

terça-feira, 19 de março de 2013

A arte de ser avó


Um belo dia , sem que lhe fosse imposta
nenhuma das agonias da gestação ou parto,
o doutor-lhe põe nos braços uma criança.

Completamente grátis- nisto é que está a
maravilha. Sem dores, sem choro, aquela
criancinha da sua raça, da qual morria de
saudades, símbolo ou penhor da mocidade
perdida.

No entanto- no entanto! - nem tudo são
flores no caminho da avó! Há acima de
tudo, o entrave maior, a grande rival: a mãe.
Não importa que ela em si, seja sua filha.
Não deixa por isso de ser a mãe.

Não importa que ela ensine a criança a lhe
dar beijos e a lhe chamar de "vovozinha" e
lhe conte que de noite, às vezes, ela de
repente acorda e pergunta por você.
São lisonjas, nada mais.

Rigorosamente, nas suas posições respectivas,
a mãe e a avó representam, em relação ao
neto, papéis muito semelhantes ao da esposa
e da amante nos triângulos conjugais.

A mãe tem todas as vantagens da domesticidade
e da presença constante. Dorme com ele, dá-lhe
de comer, dá-lhe banho, veste-o, embala-o a
noite. Contra si tem a fadiga, a rotina, a obrigação
de educar e o ônus de castigar.

Já a avó não tem direitos legais, mas oferece sua
sedução do romance e do imprevisto.
Mora em outra casa, traz presentes, faz coisas
programadas, leva a passear, "não ralha nunca",
deixa se lambuzar de pirulito, não tem a menor
pretensão pedagógica.

Até as coisas negativas se viram em alegrias
quando se intrometem entre avó e neto: o bibelô
que se quebrou porque ele- involuntariamente-
bateu com a bola nele. Está quebrado e remendado,
mas enriquecido com preciosas recordações: os
cacos na mãozinha, o olhar arregalado, o beiço
pronto para o choro, e depois o sorriso malandro
e aliviado porque ninguém zangou, o culpado foi
a bola mesmo, não foi, vó?